quarta-feira, 27 de maio de 2009

Desejos Vãos.

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…

Florbela Espanca - Livro das mágoas.
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Florbela Espanca, a tradução da dor e desespero.
Uma poetisa singular em suas palavras e história de vida.
Não um exemplo, mas uma moral.

Aqui venho também falar da minha vontade de escrever um livro de poesias.
O gênero? Não sei.
Identifico como uma mistura entre ultra-romântico e pós-moderno.
Minhas coleções já estão sendo arquivadas para em breve escrever a minha obra.
Uma vida, uma terapia escrita.
Queira Deus que tudo dê certo. Espero ansiosamente que sim.

Espero que tenham gostado do poema que postei; Florbela é uma de minhas grandes inspirações.
Em especial a obra: O livro das mágoas que foi escrito pela mesma.
Uma obra ímpar..a quem se interessar, está muito bem recomendado.

terça-feira, 19 de maio de 2009

...continuação [Parte III]

Naquela mesma manhã, assim que acordei ainda com olhos semicerrados vi que a cama estava vazia.
“Onde estará Bruno?” “Terá ido trabalhar e sequer me avisou?” “Talvez não quisesse me incomodar.” “Será que devo ir embora?” – inúmeras perguntas corriam minha mente para tentar entender o porquê de não vê-lo ali, naquele momento depois de uma noite tão maravilhosa.
Me enrolei naquele lençol escarlate e fui andando pela casa em direção à cozinha.. precisava de um copo de água e, foi lá mesmo na cozinha que o vi somente com uma samba canção preparando uma mesa com pães, manteiga, leite, café e frutas. Era um banquete.
- Ah! Bom dia dorminhoco, como está? – Bruno me perguntou.
- Bem, eu acho. Que horas são?
- Ainda é cedo, não se preocupe com isso.. preparei essa mesa pra você. – Ele respondeu.
- Vou colocar minha roupa. – Respondi.
Voltei e, de fato, aquela mesa parecia bastante convidativa e logo me sentei frente ao meu homem. Peguei uma fatia de pão e já fui passando a manteiga, sem cerimônias, pois também estava faminto e foi aí que ele colocou sua mão sobre a minha e me disse: “Seu cabelo está todo bagunçado.”, e riu num gesto meio sem graça.
- O que? – Fiquei imóvel, achei que ele falaria algo mais romântico ou adequado ao momento onde duas pessoas apaixonadas se sentam para comer.
- Seu cabelo, está bagunçado. – Repetiu a frase.
Meio desconcertado e fazendo questão de apresentar tal reação, passei suavemente as mãos pela minha cabeça para ver se assim aquietava as madeixas.
- Não se preocupe, você fica lindo assim. Um jeito meio menino de ser, foi isso que me conquistou em você. – E Bruno seguiu dizendo: Adorei a nossa noite, você é muito gostoso e eu te quero sempre do meu lado.
Aquele assunto estava me deixando pouco à vontade. Fazer comentários de uma transa é algo excessivamente desconfortável, mas tudo bem!
Depois de comermos fui arrumando os objetos, colocando-os sobre a pia, empilhando-os para que pudessem ser lavados (sempre é educado), mas ele me impediu agarrando minha mão e me puxando para a sala onde ficamos por um tempo vendo desenho na televisão e trocando carícias e beijos.
- Lú, tenho que ir trabalhar. – Bruno me avisou.
- Sim. E eu tenho que ir embora, minha mãe deve estar doida atrás de mim. – Sorri meio sem graça.
Ele se levantou, virou-se para mim e estendeu sua mão. O que aquilo queria dizer?
- Vamos tomar banho. – Respondeu, como se já tivesse lido a minha mente.
Segui-o, e fui novamente tirando minhas roupas. Ele que já estava somente de cueca, facilmente se desfez de toda aquela ornamentação que escondia o seu sexo.
Entramos debaixo do chuveiro e fomos inundados com uma água quentinha e suave que parecia lavar nossas almas. Ele ia me lavando, passando xampu sobre minha cabeça enquanto eu estava de costas para ele, aproveitando também para se encostar-se a mim.
Lavava minha cabeça e descia suas mãos sobre meu corpo, lavando cada pedacinho de mim, me excitando. “Vou cuidar de você agora, menino.” – Bruno dizia. Ele seria meu homem, aquele que cuidaria de mim, me defenderia e muito além... me amaria.
Assim que a espuma se entregava sobre a água deixando-se despregar de meu corpo, Bruno envolvia-me em seus braços fortes e me agarrava, beijava meus lábios. Aquela água escorrendo sobre nossos corpos dava um clima tão sensual àquele momento que mal poderia controlar um gozo.
Ver a água correndo sobre o corpo do meu homem, parecendo gotículas que brotavam de seu âmago, gotas que ia aos poucos sugando a cada passar de minha língua sobre aquele corpo.
Bruno sequer esboçava uma reação, apenas encarava-me nos olhos, olhando meu espírito e beijava-me; em silêncio entramos, e do mesmo modo saímos. Começava a me preocupar.
- Porque você está tão calado? Arrependido por ontem a noite? – Perguntei.
Ele que estava de costas vestindo uma camisa em algodão onde cores claras se destacavam sobre pequenas linhas traçadas ao longo do tecido. Era sexy além de lhe atribuir um ar senhorio. Terminou de abotoar aquela camisa e voltando-se para mim disse que me sentasse. Foi que fiz.
- Lú, tenho que te confessar uma coisa, ...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mais uma sessão na psicóloga.

Pontualidade britânica - isso é o que me caracteriza.
Chego e sento na mesma poltrona posicionada transversalmente sobre a borda de uma parede.
Paro e... nada me ocorre. O que fazer?
Como sempre...vou analizar o ambiente (que aliás nunca muda).
Um criado mudo branco posicionado ao lado da poltrona de terapeuta que por sua vez estão a minha frente; neste criado encontram-se uma escultura em argila e posteriormente queimada. "Seria barroca?" - Aquilo não me interessava.
Ainda naquele criado, algo que há tempos me intrigava, um copo, e dentro dele um líquido com uma tonalidade meio amarelada...aquela tonalidade seria enfeite do copo ou seria algum suco?
Se fosse suco, de que seria?
Porque minha terapeuta insiste em todas as sessões tomar este mesmo suco?
Insisto... deve ser suco de cajú. Logo percebi pela tonalidade.
Quadros cercam o ambiente da sala e breves palavras saem de minha boca.
- Estou bem! Razoavelmente bem!
E assim começou a sessão.
[...]


Porque é tão difícil conversar?
Porque é tão difícil se abrir com o outro, mesmo sabendo que o outro pode te ajudar e está ali para te ajudar?
Há dúvidas e questionamentos que as respostas para uns são óbvias, para outros, por mais que as procurem, parece impossível de encontrá-las.
Tenho andado em círculos e não sei discernir se tenho estendido a mão para pedir ajuda ou se tenho recolhido a mão para os que me oferecem ajuda.
E sofro, sofro ao saber que muitos à minha volta também sofrem com isso.
Mas vou continuar a viver.
Vou continuar a escrever, pois essa é a única forma de expressão que encontrei.

sábado, 9 de maio de 2009

Confissões.

Estou angustiado.
Sinto dor, tristeza e mágoas, o motivo pelo qual ainda não sei. Tanto faz.
Meu espírito é velho embora esteja em um corpo tão jovem.
Ultimamente passei por coisas terríveis, embora não sejam para muitos de vocês.

Algumas pessoas lembram de seu primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro namorado, o primeiro porre, a primeira viagem com os amigos. Não me recordo de nada disso.
Minha mente está vazia, e sequer um sorriso estampa meu rosto.
Coisas banais como estas antes descritas marcam a vida de uma pessoa; coisas estas que não me lembro.
- Quando foi o meu primeiro beijo?
- Nunca tive um namorado em toda a minha vida; sempre solitário.
- Dentre tantos copos já virados, qual deles foi o primeiro?
- Não, já não sei se tenho amigos.

Ultimamente só tenho dormido para passar tamanha dor, para sufocá-la.
Talvez escrever seja uma forma de retirá-la de mim, de exprimi-la, talvez tenha nisso um propósito terapêutico.

A tempos atrás experienciei algo que nunca havia passado antes. Tive o meu primeiro surto psicótico. Esta é a única lembrança que carrego comigo.
Complexa cognição a que se recorda somente de fatos tristes e abstrai momentos felizes. Porque?

Minha família toda preocupada ao ponto de se desfazer, minha psiquiatra que me indicou pra uma psicóloga, remédios e conselhos que dizem que eu não posso mais sair sozinho pelo período de estabilização destes surtos, não posso dirigir, não posso beber ou fumar pois estes aumentam a ansiedade.
Uma vida restrita e incomparavelmente aflitiva. Seria melhor a morte?
Sim, esta tem sido muito pensada ultimamente.
Eu não amo a minha existência. Sempre projetei este papel a outros, e todos falharam neste processo.
Mas como poderiam se sempre fico em esquiva?

Sinto que meus amigos estão me virando as costas... Alguns tem vergonha, outros somente me recriminam. Diziam-me que amigos dá-se para contar nos dedos de uma mão, mentira!
Eles não existem, são colegas, conhecidos com os quais divido experiências.
Talvez esteja sendo um tanto equivocado, mas até que me provem o contrário.
Sou realmente tão frustrado?
Porque nunca ninguém me amou nesta vida?
Qual o meu problema? Sou assim tão repulsivo?