segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Meu corpo é quente, transpira incondicionalmente; mas minha alma é gelada e, como o gelo, queima.
Sim! Estou em dia com meus medicamentos, mas sinto que estes sequer fazem mais efeito sobre mim.
Sinto dó de mim, pena, e ao mesmo tempo, remorso.
Não vejo esperança, não vejo perspectiva para futuro e tudo parece tender a piorar. Suicídio realmente não definitivamente uma má ideia.
Porque devo afinal temer o inferno? - Sendo este afinal o único e exclusivo motivo que me prende a esta vida.
Tenho orado para Deus me arrancar este medo. - Que infeliz paradoxo.
Meu destino parece sombrio. Não quero ter que enfrentar todas as nuances desta vida.
Tenho medo do futuro, e não consigo viver sem pensar nele.
São caminhos escuros. Por mais que os planeje, esta seria apenas uma pequena vela que me guiaria na escuridão, mas a pequena chama de uma vela poderia facilmente cessar e abandonar-me quiçá no momento em que mais necessitasse de sua luz, seria da mesma forma o meu fim.
Tenho muitos lutos para elaborar nesta vida.
Não me refiro ao falecimento de entes queridos, me refiro ao término prematuro das coisas que comecei e não terminei nesta vida.
Tantas coisas com seu súbito fim tornaram-me, de certa forma, insensível. Talvez seja este o motivo de nem me recordar a última vez que derramei uma última lágrima.
Fui formado por estas consecutivas percas que foram aos poucos desfigurando meu ego.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Acho que vou escrever para ver se melhoro.
A realidade é que neste momento estou vivenciando um momento bastante peculiar em minha vida.
Não um momento excepcional, um momento nunca antes vivido; mas como alguns devem saber, para o border isto não existe. Para o border, cada situação apesar de parecer igual, sempre contém uma certa particularidade diferente da anterior.
Desta vez, sinto aquela velha solidão de sempre. Aquela velha solidão repaginada.
Engraçado que diferente da maioria dos borderline, eu não consigo nunca me relacionar (isso só me reforça a ideia de que morrerei só - o que me assusta muito).
As minhas frustrações, as minhas cisões, raciocínio 8 ou 80, e toda aquela sintomatologia tão bem descrita em manuais estatísticos são vivenciados por mim de modo bastante diferente. São todos no campo das ideias.
Me deixe explicar melhor.
Neste manuais falam que os pacientes borderline entram em relacionamentos e nestes relacionamentos vivenciam todas estes sintomas...passam por todas estas coisas.
No meu caso, ao contrário, eu sequer consigo entrar em um relacionamento. Não consigo.
Sinto-me sempre tão inferior a todos que penso nunca encontrar alguém bom o bastante para mim. Fantasio relações. Sempre fantasio situações com pessoas das quais vejo nas ruas e me apaixono pelas situações que vivencio. Pessoa perfeita, vida perfeita, relacionamento perfeito.
Nunca existirá!
Quando volto à realidade, me sinto o lixo que sou, por saber que nunca serei bom o bastante para a pessoa para a qual idealizei esta vida. Entram as escarificações. As punições. Os ataques de fúria e pânico.
Me apaixono sempre por uma ideia, e é isto o que estou vivendo atualmente. Não estou conseguindo sair desta fantasia.
Todas os sintomas borderlines, são em mim ativados pelas minhas fantasias, e nunca pela minha vida real, pelos relacionamentos reais...já que estes não existem.
Quando surgia a oportunidade de estar em relacionamento, me desvencilhava, fugia.
Atualmente, tenho a nítida impressão que a pessoa não é tão boa o bastante para mim quanto a fantasia, apesar de não ser real, e apesar de esta também ser responsável por todas as minhas cicatrizes.
Estou ficando louco.
Preferindo viver na fantasia que na realidade, e eu não consigo controlar isto.
Dias atrás escorei na sacada e pular não pareceu ser uma má ideia. Pensei, relutei.
Tenho também sonhado com suicídio.
Todos os dias, a angústia parece nunca haver fim.

Outra faceta é a angústia de não saber o que sou.
Dizem-me ser uma coisa, mas nunca me sinto capaz.
Estou no final do curso e minha auto-cobrança é desesperadora.
Sinto uma pressão esmagadora e, ao mesmo tempo não consigo escapar disso.
Sou o que penso que sou, ou o que dizem.
Parece ser uma questão fácil de ser resolvida, mas na minha mente, existe um nó indecifrável.
Eu perdi essa noção de "eu" e não sei qual devo seguir, pois ela é central para a formação de mim-futuro.
Sou mesmo bom aluno?
Sou mesmo inteligente?
Parece que não existe meio termo. Tenho que ser completo para ser.
Porque sou assim?
Estas respostas não encontrei em terapia, em remédio, em mim, nem em Deus.
O que vai ser de mim?
Seria mais fácil desistir?
Mas e se amanhã melhorar?
Nunca se sabe.